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quarta-feira, 20 de abril de 2011

PARÁBOLA DA SIMPLICIDADE

PAULINE E O POTICHE CHINÊS

Pauline era uma pobre e iletrada faxineira.
Durante vinte anos, Pauline zelara pela limpeza e boa ordem do luxuoso apartamento de Mme. Henriette, localizado nas cercanias da Place de la Concorde, no pulsante coração de Paris.
Patroa e empregada davam-se muito bem, apesar das flagrantes diferenças de educação e personalidade. Mme Henriette era mulher culta, bem-nascida, mas surpreendentemente simples. Simples no trato e, principalmente, no modo de pensar. Em oposição, a confusa Pauline mal sabia assinar o nome e fazia de qualquer gota d'água uma verdadeira tempestade.
Certa manhã ao chegar para mais um dia de trabalho, a empregada deparou-se com as duas filhas de sua patroa. "Sinto muito Pauline", disse-lhe a mais velha, dispensando rodeios, "mas, de hoje em diante, não iremos mais precisar dos seus serviços. Mamãe já esta bastante idosa e, finalmente, concordou em morar comigo na Riviera. Este apartamento será fechado e colocado à venda." Notando a expressão atônita de Pauline, resolveu esclarecer melhor: "Eu e minha irmã Sophie achamos mais conveniente levar mamãe daqui o quanto antes, para evitar que ela se arrependa da decisão tomada. Para que prorrogar um desfecho que será inevitável? Você compreende, não é? Aqui estão o seu pagamento do mês e uma pequena gratificação!"
Com as mãos trêmulas, Pauline segurou o envelope.
Nesse momento, surgiu Mme Henriette e chamou a velha empregada para uma conversa particular. As filhas saíram da sala.
"Eu sei que tudo isso foi um choque pra você, minha boa Pauline. Contudo, já estou sentindo o peso dos anos e não pretendo lutar contra o desejo de minhas filhas. Não quero entretanto, parecer ingrata aos seus olhos. Sempre a considerei bem mais que uma simples criada. por isso peço-lhe que aceite uma recordação, um presente meu." E, dirigindo-se ao quarto, de lá voltou trazendo um pequeno potiche de porcelana chinesa. "Aceite-o Pauline. Minhas filhas, você as conhece bem são muito apegadas as coisas deste apartamento mas não se importarão ao vê-la saindo com esta pequena peça!" Mme. Henriette piscou um olho e sorriu.
Cheia de indignação, a empregada apanhou o potiche, disse um seco "Merci madame!" e retirou-se.
Sua cabeça fervilhava  quando alcançou a rua. Como madame pode fazer isso comigo? Eu, que a servi durante tantos anos... Eu, que sempre fiz muito mais do que era minha obrigação? De que me serve este enfeite de louça? Uma dama tão rica... Jamais pensei que madame fosse tão insensível, tão mesquinha! Ela deveria saber que eu também já estou velha. Será que não pensou nas terríveis dificuldades que terei que enfrentar?"
revoltada, retirou o poticvhe da sacola e colocou-o no chão, aos pés do famoso obelisco egípcio que há anos adorna a magestosa Place de la Concorde.
"Quem quiser essa porcaria, que faça bom proveito dela!" murumurou, ressentida. E seguiu seu caminho.
Minutos depois, um velho fotógrafo notou a graciosa peça de porcelana, abandonada à sombra do antigo monumento. 
Abaixou-se, apanhou-a e retirou-lhe a tampa.
Maravilhado, seus olhos contemplaram um belíssimo colar de brilhantes e duas magníficas pulseiras cravejadas de rubis, delicadamente protegidos por alvos chumaços de algodão.



A exemplar história de Pauline nos demonstra o quão lamentáveis podem ser os erros nascidos da pura falta de simplicidade.
Se Pauline não se tivesse deixado levar pelas interpretações precipitadas, que sempre ocorrem quando as emoções e o raciocínio se tornam confusos, teria percebidp a sutil piscadela de sua patroa; teria destampado o potiche e descoberto o legado generoso que continha. No entanto, como jamais fora pessoa simples, ela preferiu mergulhar em mil e uma considerações e juízos, deleitando-se morbidamente com o papel de injustiçada. Assim, acabou descartando o pequeno tesouro que lhe asseguraria a subsistência, até o final de seus dias.
Quantas Paulines não estarão, presentemente, atirando fora seus tesouros, suas oportunidades, os legados salvadores que Deus lhes encaminha? Lembremo-nos: até mesmo para destampar um potiche, para abrir uma determinada porta, ou para enxergar o que esta bem diante de nós... Necessitamos certo grau de clareza interior... Só a têm aqueles que, previamente, conquistaram a SIMPLICIDADE!

Texto extraído do livro: "O pequeno livro dos remédios da alma"
Erik W. Jann

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